Citação
“A função do sistema educacional é fornecer à sociedade CIDADÃOS EDUCADOS, em condição de garantirem sua própria sobrevivência e melhoria contínua e garantir a sobrevivência e melhoria contínua da própria sociedade” (Fonseca, L. – Qualidade e Produtividade no Sistema Educacional – Editora Universidade – 2001).
Desenvolvendo as competências para o futuro: a educação de que precisa o meu país – e o mundo.
As competências exigidas dos profissionais e cidadãos hoje diferem radicalmente das que eram exigidas há 50 anos. E diferirão exponencialmente a cada ano que passar. Que novas competências serão estas? O sistema educacional que conhecemos dará conta de provê-las?
Na Era Agrícola, os filhos eram treinados diretamente pelos pais a repetir as seculares práticas agrárias dos mais velhos, sem questioná-las. Não havia um sistema de educação formal. E dava certo. Na Era Industrial, crianças e jovens eram treinados para o paradigma “Faça tudo o que o seu mestre mandar”, que encontrariam nas fábricas. Manda quem pode – o professor – e obedece quem tem juízo – o aluno. Cada aluno no seu “posto de trabalho” dentro da “linha de montagem”, ouvindo obedientemente. Pensar? Nem pensar! E dava certo.
Com o advento da 3a. Revolução Industrial, a revolução técnico-científica, marcada pelo surgimento de tecnologias e áreas de conhecimento até então inexistentes, tudo começa a complicar. Diluem-se as fronteiras entre as diversas profissões e as diversas disciplinas: Biotecnologia, Química Industrial, Engenharia Bioquímica, Engenharia Genética, Biologia Molecular e outros híbridos.
Mas as coisas ficariam ainda piores: surge a Revolução Digital. E o nosso próprio jeito de estar no mundo muda. Combinando digitalização e convergência tecnológica com o Big Data (a fantástica massa de dados que cresce exponencialmente), começam a eclodir, em velocidade estonteante, novas tecnologias e modos de produção: Inteligência Artificial, Computação Cognitiva, Internet das Coisas, Impressão 3D, carros autônomos, economia compartilhada – Uber, AirBnb…), Indústria 4.0 e inovações disruptivas mil. Jovens, em várias partes do mundo, passam a fundar startups – empresas nascidas em casa, geridas da maneira mais informal, baseadas em idéias disruptivas para a solução de problemas reais e facilitação da vida das pessoas. Muitas delas em muito pouco tempo se tornam “unicórnios”, ou seja, superam o valor de 1 bilhão de dólares! Bem vindos à 4a. Revolução Industrial.
Neste admirável – e muitas vezes atemorizador – mundo novo, robôs e sistemas inteligentes nos prometem uma vida muito mais confortável – mas também competem conosco pelos empregos, começando com aqueles de tarefas repetitivas, mas já evoluindo para outros que exigem competências intelectuais bem mais avançadas. 7 milhões de empregos serão extintos e 2 milhões de novos serão criados, até 2020 (Fórum Econômico Mundial). Mas estes últimos exigirão competências muito mais elevadas do que as de antes. São as chamadas Competências para o Futuro, cuja lista varia, de acordo com a fonte, mas que podem ser divididas, em síntese, em 3 áreas:
COGNIÇÃO: solução de problemas, pensamento crítico, análise de dados, domínio das TIC, criatividade, proatividade, decisão e outras similares;
INTERPESSOAL: negociação, cooperação, comunicação, resolução de conflitos, influência social, empatia, adaptação…
INTRAPESSOAL: cidadania, integridade, autodidatismo, saúde física e psicológica, metacognição, resiliência, interesse intelectual/curiosidade, flexibilidade…
Uma educação “industrial”, compartimentada e engessada dará conta de formar o novo CIDADÃO EDUCADO requerido pelos novos tempos? Certamente não. Haverá que se fazer uma revolução metodológica e estrutural na escola, para que ela continue relevante, preparando pessoas para superarem os robôs e atuarem em profissões que ainda nem existem. Será necessário superar o modelo de “grade de horários”, adotar as chamadas Metodologias Ativas, como a Aula Invertida e a Aprendizagem Baseada em Projetos, a Educação 3.0, a Educação Mão na Massa, a cultura Maker, incentivar a Robótica e a Programação, ao mesmo tempo que desenvolvendo as chamadas Soft Skills e as áreas da abordagem STEAM – Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics.
Esta é a educação que quero para o Brasil e para o mundo. É possível? Vários países já estão avançados nesta linha. E eu mesmo tenho tido o enorme prazer de ajudar uma centenária instituição confessional a fazer esta revolução em suas quatro escolas, em S. Paulo e Santos. Em pouco mais de um ano, um salto extraordinário. Tudo feito de forma planejada, com um suporte de estudos profundos e usando instrumentos modernos como o Design Thinking, para conseguir uma mudança efetiva e sustentável.
Acreditar que a mudança é necessária, preparar-se para ela, não ter medo de dar o salto: assim, em breve nos lembraremos, sem saudade, “da escola tão quadrada que tivemos até a pouquinho”.